LEPETRO - POSPETRO: identificação do óleo que atinge o litoral nordestino
Pesquisadores do LEPETRO - Centro de Excelência em Geoquímica do Petróleo, Energia e Meio Ambiente do Instituto de Geociências da UFBA, vinculado ao PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOQUÍMICA: PETRÓLEO E MEIO AMBIENTE (POSPETRO), que realizaram a análise de amostras do petróleo encontrado nas praias da Bahia e de Sergipe, concluíram que há uma boa correlação do óleo derramado no mar com um dos tipos de petróleo que é produzido na Venezuela. Eles afirmam ainda em Nota Técnica que nenhum dos petróleos originados por matéria orgânica marinha produzidos no Brasil apresenta a distribuição dos biomarcadores e a razão de isótopos de carbono presentes na substância amostrada.
Dentre as amostras coletadas, foram selecionadas para análises geoquímicas nove amostras, sendo sete da costa sergipana e duas da costa baiana. Os estudos sequenciais realizados em laboratório permitiram identificar os biomarcadores presentes nas amostras, que são compostos que fazem referência a determinados ambientes sedimentares e eras geológicas e permitem identificar o ambiente e o período em que viveram os organismos que deram origem ao petróleo. É um trabalho de geoquímica forense fundamental para a identificação da origem do petróleo. Além disso, em parceria com o Instituto de Física/UFBA, no Laboratório de Isótopos Estáveis (LISE), foram feitas análises da razão isotópica de carbono das amostras de óleo.
Os resultados dessas análises geoquímicas das amostras foram comparados com os resultados das análises de petróleos constantes na literatura e daqueles que compõem o Banco de Óleos do LEPETRO, que possui amostras de óleo de diferentes bacias petrolíferas brasileiras e dos principais países produtores, no intuito de se identificar a possível origem do petróleo derramado no mar.
O trabalho da equipe de pesquisadores permitiu identificar as características do petróleo encontrado nas praias nordestinas - “É como se fosse uma impressão digital do óleo”, explica a professora Olívia Oliveira, Diretora do Instituto de Geociências (IGEO), vice-coordenadora do LEPETRO e professora pesquisadora do POSPETRO.
Através dos resultados das análises dos biomarcadores e dos isótopos estáveis de carbono, observou-se uma boa correlação do óleo derramado no mar com um dos tipos de petróleo que são produzidos na Venezuela. Nenhum dos petróleos gerados por matéria orgânica marinha produzidos no Brasil apresenta tal distribuição dos biomarcadores e razão de isótopos de carbono, conclui o estudo.
A partir das análises por cromatografia gasosa observou-se que as amostras podem se tratar de petróleo cru, que perdeu sua a fração de hidrocarbonetos leves por evaporação, além de acentuada migração da linha de base devido ao aumento relativo dos compostos mais pesados que não são resolvidos cromatograficamente. Porém, devido ao longo tempo em que esse material está no mar ou nas praias, essa constatação fica um pouco prejudicada, e já que sua viscosidade é muito alta, não se desca a remota possibilidade do material ser “bunker” (combustível de navios).
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O centro de excelência da UFBA, que tem uma equipe multidisciplinar composta por geólogos, químicos e biólogos, é um dos únicos no país com capacidade técnica e infraestrutura para realizar as análises necessárias para identificar a origem do petróleo derramado. Olívia ressalta a importância dos investimentos que foram realizados nas universidades brasileiras que permitiram o desenvolvimento dessa expertise, fundamental para a produção de resultados isentos. “Antes apenas a Petrobrás tinha capacidade para realizar esses estudos”, destaca ela.
A professora alerta que o material encontrado nas praias pode contaminar áreas de manguezal, ecossistema considerado berçário da vida marinha. Especialistas do Instituto de Biologia (Ibio-Ufba), que também participam dos estudos na UFBA, estão colaborando com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) para o diagnóstico da situação dos ecossistemas marinhos das regiões baianas afetadas.
O trabalho de limpeza das praias está sendo realizado pelo Ibama que informou, em nota, estar procedendo a avaliação do impacto ambiental e ações de resposta à fauna nas regiões atingidas. Até a quarta-feira, dia 9 de outubro, o órgão havia contabilizado 138 localidades atingidas em 62 municípios de 9 Estados do Nordeste.
A coleta de amostras ao longo da costa sergipana foi realizada em parceria com Universidade Federal de Sergipe (UFS). Outra frente de trabalho, deslocou-se para coletar amostras no município de Conde, primeira região costeira contaminada no litoral baiano. Essa equipe foi constituída por pesquisadores da UFBA e da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
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